quarta-feira, 11 de maio de 2011

Enlace dos anos 80

Tem algo enlaçado nos anos 80 que me chama a atenção. Não vivi, mas tenho um momento anos 80 na minha vida: Livro: A ira dos Anjos; Música: Take on me - A-ha; Filme: Dirty Dance.

É uma sensação estranha, boa, mas estranha. Tenho histórias sobre a década de 1980 arquivadas; lidas por revistas, ou ouvidas por quem viveu. E todas boas, bastante boas. Tem coisas que se não tivesse mudado, talvez minha visão do mundo não seria tão ruim. Talvez eu não seria tão exigente, talvez eu não reclamaria de tanta coisa. As pessoas nos anos 80 tinham maior facilidade para aceitar as coisas. Um disco de Vinil é caro, se não posso comprar, paciência. Era assim, não tinha o que fazer, hoje tudo se dá um jeito, se você não pode comprar um disco original, você vai na internet e acha o que quer. Se não pode comprar algo caro, você divide em inúmeras vezes, mas compra. Essa facilidade me irrita, me encomoda.

Nos anos 80, você aprendia as coisas pra valer. Ou virava um burro de verdade, não tinha como esconder. Hoje você tem o Google, seu escudo intelectual. Você pode não saber de nada, mas demonstra ser um cara super intelectual. Naquela época, ou você sabia ou não sabia nada.

Tinha mais vida. Tinha mais contato físico, mais telefone, mais cartinhas, mais romance. Nada de telinhas dentro de bolsos, telonas nas salas e mais telinhas em cantos de lanchonetes. Televisão era algo bom, porem não muito essencial. Era melhor uma lambreta, uma jaqueta de couro e um poster do The Doors na sua parede para sua mãe te chamar de revoltado.

Pra ler você tinha que abrir um livro, pegar um caderno, uma revista, um jornal. Tinha que aguentar as letras com serifas borradas e não podia reclamar da qualidade das fotos, a culpa é da revelação. E pra escrever, bem, se tivesse letra feia levava reguada na mão até aprender. E abrisse a boca pra reclamar, apanhava mais. Hoje isso não existe. O mimo que o governo criou, chamando de leis, transformou as pessoas. A disciplina pouco se aplica, pouco se define o que é respeito diante de uma hierarquia. Não existe mais o respeito pelo professor como deveria, ser considerado como mestre, por mais chato e insuportável que ele pudesse ser. Antes tinha respeito, pelo menos aparente.

Tinha que acordar mais cedo pra ligar os carros a alcool no inverno. Esquentar o motor, puxar o afogador caso ele morresse. EMBREAGEM EXISTIA E CONTRA-GIRO TAMBÉM. Carro carburado e motor forte pra impressionar as gatinhas. Ford Escort brigando de frente com o Kadet, e era a sensação do momento. Carro que recolhia a antena sozinho era coisa de outro mundo. E era legal, muito legal. Odeio transmissão automática, odeio computador de bordo, odeio marcador de velocidade digital, isolamento de som interno... Quero ouvir o ronco do motor, o barulho da mudança de marcha, quero sentir o carro andar, não quero que ele dirija por mim.

Nas casas de baladerios, tocava New Order, Erasure, Depeche Mode, A-ha, Abba. E isso quando o rock não comandava pra valer. Independente do gosto, a qualidade sonora era culta. New Order, apesar de um pouco modinha em uma época, tem musica boa pra caramba. E quem viveu, diga se não se lembra da Broken Wings, Bizarre love Triangle, A little respect, Maniac... Com os clássicos chiados do vinil, ou os barulhos estranhos feito pela fita em seu walkman. Ou aquele cheiro de fusível recheado de óleo, do seu aparelho de som super forte, que a luz do indicador ficava tremendo até ele esquentar.

As garotas vestiam saias curtas, colocavam roupas sensuais e não eram tão extravagantes. A época tinha controle, tinha impacto, no geral tinha a cabeça no lugar. Não é o mesmo que hoje. Mulher que namorasse tinha respeito, na maioria, era respeitada.

Não tinha essa de o talentoso desconhecido. Pra ser reconhecido tinha que ralar um monte, não como hoje, porque alguém tem um blog de sucesso se considera o tal, porque tem um super blog. Fama tinha feeling, tinha sacrificio, tnha dom. Tinha que saber fazer alguma coisa relevante, legal, não apenas escrever bobagem pra todo mundo rir.

Receber carta tinha um feeling. O coração disparava, o toque do papel louco para abrir pra ver o que estava escrito. O cheiro de carta, aquela coisa de receber uma correspondência. Coisa real.

O mundo era real. E está deixando de ser. Infelizmente. As pessoas estão migrando sua vida pra dentro de um browser. E que me chamem de radical, mas to ficando de saco cheio de tecnologia.

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